ENTORSE DO LIGAMENTO LATERAL DO TORNOZELO, SERÁ QUE EXISTE ?
Autora:
Barbara Hetherington

INTRODUÇÃO

Por ser uma lesão comum, virtualmente todos os fisioterapeutas já trataram um caso de entorse de tornozelo em algum momento de suas vidas profissionais. Não se trata de uma lesão reservada aos atletas de elite e atinge todas as faixas etárias. A maioria dos pacientes com entorse de tornozelo descrevem uma força de inversão/flexão plantar e acredita-se que o ligamento lateral, especialmente suas fibras anteriores tenham sido lesadas. Outras patologias relacionadas a este tipo de força podem incluir fratura de avulsão da extremidade do maléolo lateral , fratura da fíbula imediatamente acima do maléolo lateral ou um deslocamento dorsal do cubóide (Apley & Solomon 1988).

Existem muitas formas diferentes de tratamento de entorse de tornozelo, variando do tratamento caseiro até manejos ortopédicos elaborados. O manejo fisioterapêutico típico destas condições irá incluir gelo, eletroterapia, terapia manual, exercícios ativos, imobilização, e retreinamento proprioceptivo em várias formas. Eventualmente a maioria dos pacientes se recupera, porém há pacientes que continuam a se queixar de “tornozelo fraco” os quais tendem se lesionar novamente.

Uma nova abordagem para o manuseio de lesões de tornozelo envolvendo inversão/plantiflexão é aqui descrita a qual se desenvolveu em resposta a uma hipótese alternativa quanto a natureza da lesão ocorrida. A abordagem baseia-se no conceito Mulligan de falha posicional como resultado da lesão. O manuseio com sucesso de entorses de tornozelo foi alcançado por meio do tratamento com os princípios e aplicações de “Mobilização com Movimento” conforme descrito por Mulligan no qual a fíbula distal é reposicionada posteriormente (Mulligan 1993, 1995).

O tratamento é baseado na hipótese clínica de que na entorse em Inversão/Plantiflexão do tornozelo, o ligamento lateral, incluindo as suas divisões anteriores permanecem intactas e as forças são transmitidas através da fíbula. Isto faz com que ela mova-se anterior e caudalmente. Pacientes freqüentemente descrevem um “clunk” no momento da lesão, o que seria consistente com o som da fíbula subluxando-se anteriormente em relação à tíbia. Acredita-se que o edema subsequente à lesão dos tecidos moles contribui para a manutenção desta disposição anterior e caudal da fíbula.

Tipicamente pacientes com esta lesão em inversão e plantiflexão apresentam inversão mínima ou muito limitada. Acredita-se que isto ocorra devido a dor e a uma resposta protetora ao ligamento lateral danificado. Apoio para a hipótese de que a lesão é uma subluxação antero-inferior da fíbula ao invés de uma entorse de tornozelo pode ser obtida clinicamente pelos sintomas e pelas respostas do movimento quando a falha posicional é reduzida e minimizada. Uma grande melhora, com uma amplitude de movimento virtualmente livre de dor de inversão ativa pode ser obtida se a fíbula distal for deslizada posteriormente. Quando a fíbula distal é mobilizada na direção oposta, (anteriormente para enfatizar a subluxação), isto aumenta a dor do paciente e reduz a amplitude de inversão. Isto é o oposto da resposta que seria esperada se a lesão fosse na divisão anterior do ligamento lateral.

EXEMPLO DE CASOS
Pacientes referidos à clínica do autor entre fevereiro e novembro de 1995 com lesões de tornozelo foram examinados para detectar uma falha posicional e tratados de acordo com os princípios do Conceito Mulligan de Mobilização com Movimento e procedimentos simples de bandagem. A maior parte dos pacientes apresentaram-se com entorses agudas, alguns dos quais foram tratados com 5-10 dias de imobilização em splint. Também houve casos onde foi diagnosticado fratura do maléolo lateral. Estes últimos pacientes foram inicialmente imobilizados e mais tarde referidos à fisioterapia. A avaliação dos pacientes revelou em geral os sinais comuns de movimentos limitados e doloridos de tornozelo, particularmente em relação à inversão e a plantiflexão. Testando estes pacientes em apoio unipodal e com os olhos fechados, observou-se deficiências típicas do equilíbrio - tradicionalmente relacionadas à lesão dos mecano-receptores.

REGIME DE TRATAMENTO
A maior parte dos pacientes foi tratada apenas com a técnica de Mobilização com Movimento e bandagem. Terapias adjuntas tais como agentes eletrofísicos não foram utilizadas. A exceção foi para os poucos pacientes com edema importante.
Para o tratamento inicial, o paciente foi posicionado confortavelmente em long sitting, com um travesseiro de areia sob a perna. A inversão é geralmente o movimento mais restrito e portanto o movimento que deve ser recuperado primeiro. O maléolo lateral foi deslizado posteriormente por meio de pressão aplicada pela eminência tenar do terapeuta. Um pedaço de espuma pode ser posicionado entre a mão do terapeuta e o maléolo do paciente para maior conforto. Enquanto era sustentado o deslizamento, o paciente realizava uma inversão ativa. (fig1.)

Garantindo que este movimento ativo foi livre de dor, foi então realizada uma série de 10 repetições. O paciente foi então reavaliado. Três séries de 10 repetições são geralmente para o tratamento inicial. Uma sobrepressão passiva suave pode ser adicionada aos movimentos ativos do paciente tanto pelo terapeuta quanto pelo próprio paciente usando uma cinta de terapia manual (Fig.2). A alguns pacientes necessitaram de Mobilizações com Movimento adicionais para restaurar a dorsi e plantiflexão. A reavaliação dos movimentos de tornozelo geralmente revelavam um aumento importante da amplitude de movimento de inversão livre de dor. Ao se repetir o teste de apoio monopodal com os olhos fechados imediatamente após o tratamento de Mobilização com Movimento, este revelou uma melhora importante nas deficiências de equilíbrio.

Em seguida ao tratamento ativo, cada paciente recebeu bandagens. Duas bandagens de 25mm, com aproximadamente 15cm de comprimento foram usadas. Um deslizamento posterior foi aplicado para reposicionar a fíbula distal. A bandagem foi aplicada angulada sobre o maléolo lateral de forma que ela envolvesse o tornozelo para manter o re-alinhamento posterior da fíbula distal em relação à tíbia. A segunda parte da bandagem foi sobreposta sobre a primeira para aplicar uma força adicional (Fig. 3). Com o apoio da bandagem, o padrão de marcha do paciente melhorou substancialmente e a performance no teste de apoio unipodal com os olhos fechados foi comparável ao do lado não lado afetado. A bandagem foi trocada após 24 horas e em alguns casos foi necessário manter a bandagem por um período superior a 2 semanas.

CONCLUSÕES
A experiência do tratamento com o método descrito pode mudar as crenças atuais sobre natureza da lesão estrutural nas entorses de tornozelo. É proposto que a lesão em inversão comumente vista nos tornozelos cause uma subluxação antero-inferior da fíbula distal (uma falha posicional) com lesão associada de tecidos moles. As deficiências de equilíbrio comumente associadas a danos aos mecano-receptores poderia somente refletir um problema devido à má posição da fíbula. Pode ser que o ligamento lateral seja raramente a principal lesão nas entorses de tornozelo.
O sucesso dos resultados obtidos do tratamento de pacientes com entorse de tornozelo com uma conduta clínica baseada no diagnóstico pato-anatômico de subluxação antero-inferior da fíbula distal, justifica estudos nesta área. A lesão pato-anatômica precisa ser verificada e um estudo clínico prospectivo e controlado, necessário para avaliar criticamente a eficácia do método de tratamento.

  • Apley AG, Solomon L 1988 Concise System of Orthopaedics and Fractures. Butterworths, London pp 315-319
  • Mulligan BR 1993 Mobilisations with Movement. Journal of Manual and Manipulative Therapy 1(4): 154-156
  • Mulligan BR 1995 Manual Therapy “Nags”, Snags, PRP´s etc.; 3Edition, Plane View Services, New Zealand
Fonte: http://fisioterapiahumberto.blogspot.com/2008/11/entorse-de-tornozelo-e-mulligan-artigo.html


Bandagem para o tratamento da bursite da pata de ganso


Uma bursa é uma pequena estrutura anatômica semelhante a um saco , que contém fluido sinovial em seu interior. Localiza-se entre o osso e um tendão ou músculo; e possibilita que o tendão deslize suavemente sobre o osso, diminuindo assim a fricção entre estas estruturas. A inflamação das bursas, ou bursite, é um distúrbio comum, podendo ser causada por sobrecarga mecânica ou movimentos repetitivos, especialmente em atletas com isquitibiais encurtados. Pode ser causada também por trauma direto.

Bursite da pata de ganso (pes anserie), ou bursite anserina, é o nome que se dá à inflamação da bursa localizada na inserção comum dos tendões dos músculos grácil, semitendíneio e sartório na face medial do joelho. Anatomistas são famosos pela criatividade que nomeiam as partes do corpo. Neste caso, o local da inserção destes tendões se assemelham à uma “pata de ganso”, daí seu nome.

Sintomas
O paciente queixa-se de dor na parte medial do joelho (ele geralmente é capaz de apontar com o dedo, indicando ser uma dor bem localizada), mais exatamente 2-3 dedos abaixo da linha articular, aproximadamente na altura da tuberosidade anterior da tíbia. A palpação da inserção da pata de ganso é dolorosa e a dor piora com atividade física como subir e descer escadas.


Tratamento
A bursite anserina geralmente é uma condição auto-limitada, ou seja: o paciente acaba melhorando com ou sem tratamento. Entretanto, ele melhora mais rápido em com menos recidivas se tiver acompanhamento fisioterapêutico. O objetivo final do tratamento de condições que envolvem stress mecânico de alguma estrutura é reduzir a sobrecarga sobre ela. Em um primeiro momento, deve-se solicitar repouso ao paciente. Entenda-se por repouso redução ao máximo de sobrecarga mecânica, tais como prática de esportes, longas caminhadas, subir e descer escadas. Gelo 2-3 vezes por dia durante 20 minutos e inti-inflamatórios também têm importância na fase aguda. Melhorar a flexibilidade por meio de alongamento dos isquitibiais. Mais uma vez, não há estudos demonstrando qual a melhor técnica de alongamento portanto use a que mais lhe agradar: PNF, energia muscular, etc...

Bandagem
Existe uma técnica de bandagem extremamente simples porém bastante útil nestes casos. Esta técnica eu aprendi quando fiz o curso do conceito Mulligan, não sei se é uma bandagem própria do método, pois não encontrei a descrição dela em nenhum livro, site e nem em nenhum artigo de fisioterapia. Mas o importante é que funciona e esta bandagem, se bem aplicada gera redução importante da dor e faz seu paciente sair do consultório bastante satisfeito (bem mais do que com o TENS, eu te garanto) Vou ensinar o passo a passo a seguir:

Primeiro passo: Identificar anatômicamente a região a receber a bandagem

Acima: face medial de joelho, desenho da inserção da pata de ganso e sua relação com a bursa

Em seguida aplique uma faixa de esparadrapo anti-alérgico. Na verdade o esparadrapo antialérgico tem uma aderência muito ruim à pele. Algumas vezes, em pacientes mais ativos fisicamente, eu ensino o paciente a aplicar ele próprio a bandagem diretamente com o esparadrapo comum para ele reaplicar em caso de descolamento)

A idéia da próxima faixa de esparadrapo será tracionar anteriormente os tendões da pata de ganso, fazendo um realinhamento biomecânico e diminuindo um pouco o stress mecânico sobre a bursa, do jeito que está demonstrado acima.

Depois de aplicar o esparadrapo anti-alérgico, aplique uma segunda faixa, desta vez de esparadrapo comum, aplique de posterior para anterior, tracionando e "aproximando" a pele com os dedos conforme a figura acima. Ao final, a pele sob a bandagem deve ficar com um aspecto enrugado como "casca de laranja".


Pronto, última imagem, a seta indica a direção da tração aplicada. Ao final da bandagem peça ao seu paciente apra caminhar e repetir os movimentos que causam dor. Se você tiver tido êxito, então seu paciente sentirá uma redução importante da dor e irá pra cas asatisfeito com seu atendimento.
IMPORTANTE

  1. O esparadrapo não deve permanecer por mais de 48 hs em contato com a pele para evitar lesões cutâneas
  2. A bandagem garante apenas um repouso às estruturas e redução da dor. E deve ser usada em conjunto com outras técnicas de fisioterapia
  3. Se não houver melhora imediata da dor, retire e refaça a bandagem. Os efeitos devem ser imediatos. Se a dor não diminuir, então não tem porque o paciente ir para casa com ela.

Espero que esta postagem tenha lhe acrescentado algum conhecimento útil e que você possa ajudar pacientes a terem um tratamento fisioterapêutico mais efica.

Fonte: http://fisioterapiahumberto.blogspot.com/2009/02/bandagem-para-o-tratamento-da-bursite.html