A importância do tratamento precoce da tendinite do supra-espinhoso na prática desportiva

Resumo.

O presente levantamento bibliográfico tem como objetivo verificar a importância no tratamento precoce na tendinite do supra-espinhoso. A sobrecarga repetida decorrente de algumas práticas desportivas, sobre a articulação do ombro pode ocasionar lesões agudas e crônicas. Fatores como esporões degenerativos, espessamento crônico da bursa, depósitos crônicos de cálcio, tensão da cápsula posterior do ombro, frouxidão ligamentar e hipovascularização do tendão do supra-espinhoso, juntamente associada à atividade que envolva elevação do ombro acima de 90 graus, têm sido apontados como fatores importantes na incidência desta patologia. Alguns dos responsáveis pela ocorrência desta patologia em determinados esportes são: a sobrecarga do treino, o uso excessivo dos movimentos do ombro e também fatores degenerativos. Em relação a tendinite do supra-espinhoso, observa-se na literatura uma ampla possibilidade de intervenções que devem ser determinadas com o grau da lesão e das áreas anatômicas afetadas, podendo ser utilizado desde o tratamento conservador até técnicas cirúrgicas. Após as modalidades que apresentam que apresentam grande incidência desta patologia terem sido revisadas (beisebol, voleibol, natação, handebol e outros), sugere-se que todas equipes técnicas e médicas ligadas a estes esportes adquiram um amplo conhecimento anatômico e biomecânico dos gestos específicos da modalidade, com maior intuito de retardar ou impedir o surgimento dessa lesão e conseqüentemente a interrupção dos treinamentos do atleta.
Palavras-chave: Ombro, Lesões, Tendinite do Supra-Espinhoso, Excesso de uso.

The importance of the precocious treatment of the practical tendinite of the supply-prickly one in the porting one

The present bibliographical survey has as objective to verify the importance in the precocious treatment in the tendinite of the supply-prickly one. The decurrent repeated overload of some practical porting, on the joint of the shoulder can cause acute and chronic injuries. Factors as degenerative spines, chronic thickness of bursa, chronic calcium deposits, tension of the posterior capsule of the shoulder, looseness to ligament and bloodless of the tendon of the supply-prickly one, together associated to the activity that involves rise of the shoulder above of 90 degrees, have been pointed as important factors in the incidence of this pathology. Some of the responsible ones for the occurrence of this pathology in determined sports are: the overload of the trainings, the extreme use of the movements of the shoulder and also degenerative factors. In relation the tendinite of the supply-prickly one, observes in literature an ample possibility of interventions that must be determined with the degree of the injury and the affected anatomical areas, being able to be used since the treatment conservative until surgical techniques. After the modalities that present that they present great incidence of this pathology to have been revised (baseball, volleyball, swimming, handball and others), suggest that all teams on techniques and doctors to these sports acquire an ample anatomical, and biomechanics knowledge of the specific gestures of the modality, with bigger intention consequently to delay or to hinder the sprouting of this injury and the interruption them training it athlete.
Word-key: Shoulder, Injuries, Tendinite of the Supply-Prickly One, Overuse.

Introdução

O ombro é a articulação proximal do membro superior sendo considerada a mais móvel de todas do corpo humano, classificado por Kapandji (1990) como esferóide, o que permite orientar o membro superior nos três planos no espaço e nos três respectivos eixos. Assim, podemos realizar os movimentos de extensão e flexão no plano sagital, os de abdução e adução no plano frontal, e os de rotação interna e externa do ombro no plano transversal.
Portanto, a combinação desses movimentos nos permite maior mobilidade e amplitude de movimento deste membro para a execução das diferentes modalidades esportivas.
Considerada uma articulação complexa, o ombro pode apresentar lesões tanto agudas como crônicas. A tendinite do supra-espinhoso é uma lesão crônica que acomete o complexo do ombro em atletas de modalidades que utilizam demasiadamente estas articulações. Esta patologia se manifesta por dor crônica devido ao impacto subacromial na região ântero-inferior do acrômio, ligamento coraco-acromial e articulação acromioclavicular, sendo que o processo coracóide também pode colaborar com o impacto. (CUNHA et al, 2003). Na maioria das vezes está associada à fraqueza muscular, onde envolve atividades esportivas com elevação e movimentos explosivos do ombro.
Assim, o objetivo desta presente revisão bibliográfica foi verificar e analisar alguns aspectos relacionados à principal lesão crônica que acomete a articulação do ombro, a Tendinite do Supra-espinhoso; e evidenciar a importância do tratamento fisioterapêutico precoce em atletas com o diagnóstico clínico de tendinite do supra-espinhoso evitando o afastamento do atleta de sua prática esportiva.

Referencial Teórico

Em busca de uma simples definição para o ombro, consultou-se o dicionário da língua portuguesa AURÉLIO (1993) e constatou-se a seguinte afirmação: "O ombro é caracterizado pelo segmento mais alto de cada membro superior, representando o local por que este membro se une ao tórax.
Em uma citação NORKIN e LEVANGIE (2001) demonstram a importância e dependência da relação do complexo do ombro como base móvel às necessidades de movimentação dos membros superiores:
Os membros superiores do corpo humano constituem um pouco menos de 10% do peso corporal total. Entretanto, este pequeno segmento da massa corporal contém uma das principais características físicas que separam os humanos do restante do mundo animal: a mão humana. As intrincadas funções gerais e especiais realizadas pela mão dependem de uma base móvel, embora forte, proporcionada pelo complexo do ombro.
Como forma de esclarecimento e sustentação à problemática que envolve o complexo do ombro, uma abordagem sobre a evolução da espécie humana e sua relação com o meio torna-se indispensável:
A postura ereta assumida pelos humanos no decorrer do processo evolucionário provocou uma enorme mudança nas necessidades funcionais da articulação do ombro. Não era mais necessário fornecer a propulsão e sustentar o próprio peso; em vez disso, era preciso posicionar as mãos no espaço de modo que pudessem ser usadas como ferramentas. Para atender a essas necessidades preênseis, o ombro adaptou-se e desenvolveu a maior de todas as amplitudes de movimento das articulações do corpo. Este movimento, que permitiu aos humanos manipular o meio ambiente, causou a perda inestimável da estabilidade inerente (CANAVAN, 2001).
De acordo com WATKINS (2001) a maioria dos movimentos do corpo envolve simultaneidade em várias articulações diferentes.
O manguito rotador é constituído por um conjunto de quatro músculos que agem em conjunto (supra-espinhoso, infra-espinhoso, redondo menor e subescapular) e são responsáveis pela abdução, rotação externa e interna do ombro. Estes músculos têm como principal função manter a cabeça do úmero coaptada na cavidade glenóide, assim como, manter um sincronismo no ritmo escapulo-umeral, prevenindo qualquer tipo de decoaptação, durante os movimentos de rotação e abdução do ombro (VOLPON; MUNIZ, 1997).
Na prática desportiva que, utiliza muito os membros superiores, predispõe o manguito a compressão e ao aparecimento de dores, mesmo em indivíduos jovens. O impacto subacromial primário, determinante para o atrito e degeneração do manguito, é uma das causas de lesões. O impacto ocorre contra a porção ântero-inferior do acrômio, ligamento córaco-acromial e articulação acromioclavicular, sendo que o processo coracóide também pode colaborar com o impacto (CUNHA et al, 2003).
As lesões esportivas podem ser classificadas em agudas e crônicas, sendo que a maioria das agudas é conseqüência de acidentes, portanto involuntária e de rápida instalação. As lesões crônicas ou de desgaste são causadas no aparelho músculo esquelético de sustentação e movimentação que se instalam lentamente, a princípio despercebidas, e que ao contrário do que acontece com as agudas, apenas em longo prazo são reconhecidas como perturbações patológicas (ROMPRE et al, 2000).
Kralinger et al. (2002) classificam as atividades esportivas em três tipos, de acordo com o grau de pressão e sobrecarga sobre a articulação do ombro. Nos esportes do tipo I, a articulação do ombro é pouca solicitada e/ou sofre pouca pressão, como por exemplo: escalada, ciclismo, entre outros. No tipo II o ombro sofre uma pressão moderada, a exemplos: esqui, snow bording, etc. Já no tipo III o ombro é extremamente solicitado e sofre uma grande pressão e sobrecarga a exemplos do beisebol, squash, tênis, vôlei, ginástica olímpica e natação. Cohen e Abdala (2003), através de uma revisão bibliográfica, evidenciam que o ombro é responsável por 13% do total de lesões nos atletas, sendo as modalidades que envolveram arremessos as mais freqüentes.
Segundo Volpon e Muniz (1997) a Tendinite do Supra-Espinhoso em atletas ou Síndrome do Pinçamento é uma tendinopatia que comprime o tendão do músculo supra-espinhoso, do infraespinhoso ou cabeça longa do bíceps braquial no arco córaco-acromial, provocada pela elevação excessiva do braço acima de um ângulo da linha do ombro. O termo impigment inicialmente descrito por Neer (1995), tem sido utilizado como Síndrome do Pinçamento ou Síndrome da Colisão Posterior, para designar a mesma patologia.
Neer (1995) classificou o aparecimento dessa patologia em 3 fases: Fase I ocorre edema e hemorragia local, fase II: ocorre presença de tendinite e fibrose, Fase III: ocorre formação de osteófitos e ruptura do tendão do supra-espinhoso ou do cabo longo do bíceps.
A Síndrome do Pinçamento é uma patologia do ombro caracterizada por uma dor na face ântero-lateral do ombro, podendo acometer diversas fixas etárias, em indivíduos com atividades que solicitem o uso dos membros superiores. (Neer, 1995).

Material e Método

Esta é uma pesquisa de caráter bibliográfico desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet; visando apresentar a importância do tratamento fisioterapêutico precoce em indivíduos envolvidos diretamente com a prática esportiva.

Discussão

Em relação ao tratamento da Síndrome do Pinçamento, observa-se na literatura uma ampla possibilidade de intervenções que devem ser determinadas de acordo com o grau da lesão e das áreas anatomicamente afetadas, podendo ser utilizado desde o tratamento conservador aé técnicas cirúrgicas.
De acordo com Coben e Abdala (2003), o tratamento para Síndrome do Pinçamento é conservador no início com analgesia, afastamento da atividade esportiva e um programa de reforço do manguito rotador por até seis semanas. É importante também modificação das atividades que exijam a utilização inadequada do ombro. Quando é feito o tratamento cirúrgico com reparação do manguito rotador ou descompressão subacromial artroscópica, em geral o retorno à prática esportiva está prevista para quatro a oito meses.
A síndrome do pinçamento é uma lesão freqüente. Esportes de arremesso, populares na América apresentam maiores taxas desta lesão. Sua gênese está relacionada tanto ao trauma violento gerado durante o esporte, quanto por microtraumas repetitivos (overuse). No presente estudo notou-se predominância da lesão na natação (38,09%), certamente por sua grande popularidade no país, seguido pelo beisebol (19,04%), prática na qual o atleta ao manter um dos ombros abduzido e rodado externamente, é submetido a forças multidirecionais de forte intensidade que podem levar à luxação primária. A terceira maior taxa foi apresentada em praticantes de voleibol (14,28%), devido, talvez à grande energia cinética ao qual submete a articulação glenoumeral. (Collins, 1973).
Nicoletti et al., notaram que nos pacientes com menos de quarenta anos (44,42%) havia algum grau de diminuição de amplitude de movimento e salientou a associação de dor e instabilidade em 28,57% dos pacientes.
A síndrome do pinçamento tratada de maneira precoce, com analgesia, afastamento da atividade esportiva e um programa e reforço do manguito rotador por até seis semanas, está relacionada ao sucesso freqüentemente necessário aos atletas de competição (Ferreira Neto AA., 2000). As cirurgias para paciente com Síndrome do Pinçamento do grau III, ou para os que não respondem ao tratamento conservador consiste em uma descompressão subacromial, denominada acromioplastia. O objetivo é eliminar a descompressão mecânica e prevenir desgaste nas áreas críticas do manguito rotador. Esta correção cirúrgica pode ser realizada por técnicas de artroscopia ou de artrotomia (Wilk et al., 2000). As principais causas responsáveis pelo abandono e o retorno parcial ao esporte foram o medo de uma nova recidiva, seguida pela dor e instabilidade.

Conclusão

As lesões por impacto, devido ao uso excessivo dos ombros, são as mais comuns entre os atletas de competição, sendo denominantemente chamadas de síndrome do pinçamento. Assim torna-se importante o conhecimento das principais causas dessa disfunção pra que as ações preventivas sejam tomadas no intuito de diminuir essa lesão.
Existe um consenso entre treinadores, atletas, profissionais da saúde e pesquisadores quanto à importância do fortalecimento dos músculos menos exigidos nos treinos. Isto propiciará mais equilíbrio para a articulação do ombro deixando-a menos suscetível a lesões. Esta apreensão mantida em ombros estáveis e indolores traduz aspectos psicológicos a serem trabalhados com um tratamento fisioterapêutico precoce, que certamente estarão presentes nos futuros protocolos de reabilitação esportiva.